quarta-feira, 28 de julho de 2010



"Iaiá, eu li um soneto de amor, que as lágrimas que tu não chora, se escondem num rio dentro de tu."

Cumade, Céu.

sexta-feira, 16 de julho de 2010



leaving home and coming home



tá combinado o arraiá na santana.
eu quero festa, quadrilha, pé de moleque e cachorro quente.
eu quero fogueira e a benção de São João, mesmo que ele já esteja de férias, 
sei que ele não vai recusar meu convite.

eu até fui ver o Gilberto Gil num show só de baião,
pra ver se matava essa vontade que desde do último 4 de junho, tá crescendo aqui dentro de mim.
mas os moços de preto só deixavam a gente ficar sentado e quando eu consegui escapar,
era só eu, de pé, dançando.
e num era loucura não, era erupção.
mas assim não dá. 
alegria tem que ser de 2, 3, 1000, 180 milhões,
de um só, é tímida, sem graça, mesmo que seja alegria.

teve outro,
outro chamado.
uma espécie de iluminação.
ali na minha frente, a mulher mais linda do Brasil.
sei que muita gente vai discordar de mim, mas tenho um gosto esquisito mesmo.
era ela, Maria Bethânia.
seu canto me anestesiava.
durante o show, nenhuma palavra em inglês,
uma homenagem à poesia que é o português.
foram lágrimas de encher rios e junto com elas, a certeza de que é hora,
hora de ir pra casa.

que casa?
elói?
sim.
pra andar de lancha com meu pai.
pra ver minha mãe costurando.
para fotografar a beleza da Suzanne e os traços ainda meninos do Júnior.

pra ver a Tayná ensinando inglês pro Felipe,
o choro mole da Caroline e o rebolado da Ana Alice.
pra entrar na turma do quintal da Vó Zica.
será que alguém já tá grande?
helena, cê ainda é criança né?
e eu, será que eu já cresci?
será que eu ainda posso subir em árvore?
eu juro que vou tentar.
se eu cair, pelo menos sei que vou ter colo pra chorar.

pra comer o queijo da Conceição.
tomar cerveja com a Vó Oneida.
e vinho com as mininas amigas da velha infância.

São Paulo?
eu quero também, muito.
pra madurar meu lado adulto.
encontrar minha gente de lá.
procurar meus parceiros, 
começar meu caminho de pés no chão.
sei que estive voando.
ai, e que vôo foi esse que me lançou tão longe.
quanta adrenalina, quanto medo de cair.
mas do alto, eu pude ver,
eu juro que eu vi o quão pequena eu sou e ao mesmo tempo, o quão grande eu, você, todos nós podemos ser.
é só se entregar à missão.
não falo daquela grande que quase sempre custa encontrar.
falo da de cada dia.

amor, devoção e festa, me aconselhou Maria Bethânia.
fé na festa, cantou Gil.

e Ubatuba, Tiradentes, Belo Horizonte? ai, eu quero todas essas cidades que eu tanto amo e muito mais...
eu quero redescobrir o Brasil.

e o sonho de conhecer o mundo?
passou?
não.
seguirei sempre na busca do meu mundo.
mesmo que pra isso, eu tenha que estar algumas vezes fora daquele onde eu nasci.
é verdade que eu até achava que a gente pode construir um mundo próprio, onde quer que esteja, mas acho vou ter que mudar um pouco essa teoria.
o que a gente pode é levar nosso mundo pra qualquer lugar,
construir um novo? hum... acho difícil e doloroso.
eu também acreditava na existência de um mundo só, sem fronteiras.
acho que na verdade, a minha escolha por sair do Brasil, nasceu desse medo de ser bairrista, de ter uma vida medíocre enquanto existe tanto por conhecer fora da comodidade, do conforto do ninho. 
mas agora entendo que as fronteiras existem e vão além da aparência.
continuo acreditando na igualdade entre todos, mas também nas diferenças, desde que aceitas e não rejeitadas.
aquela prosa boa só dá pra ser em português.
e às vezes, quando não dá pra entender ou suportar o que tá tão fora do seu costume, talvez a melhor opção seja tomar outro rumo, não insistir.

voltando ao vôo, poderia passar horas contando histórias, mas talvez possa resumir tudo isso em um só aprendizado:
confiar em si mesmo e ter orgulho de ser o que é.

acho que é isso que tem levado o Brasil pra frente.
esse jeito de contar causos só pra fazer rir, de consertar a pia, o rádio, o chuveiro, de dar nó na sacola rasgada.
de fazer mixido com o que o resto do almoço, pedir açúcar pro vizinho e agradecer com um pedaço do bolo pronto.
a gente rebola, dribla, xinga, faz de tudo pra fazer gol,
pra depois passar o resto do jogo comemorando.
e se o outro time vira, pode ser que no meio da festa a gente nem perceba.
é ficar com a metade do copo cheio e não se lamentar pela parte vazia.

de longe, eu vi melhor, vi mais amplo e a distância fez com que as mensagens chegassem de golpe, assim:

na Bienal de Artes em Veneza, quando entrei no Pavilhão do Brasil, tudo eram cores ao contrário de outros onde o que havía eram resquícios negros da guerra.

em Paris, na estréia do festival de cinema brasileiro, a confusão era coisa de Brasil, não de França. e num falo de falta de organização, mas de burburinho, de agitação, de sei lá... alguma coisa contagiante. o filme era Dzi Croquete, um documentário sobre um grupo de dançarinos travestis que causaram o maior furdunço aqui na Europa nos anos 70. a exibição foi um baile pra ninguém botar defeito. só faltava apagar a tela do cinema e começar a festa.

num outro festival de cinema brasileiro, esse em Barcelona mesmo, chegou o baião de Humberto Teixeira, através de "Homem que engarrafava nuvens" e eu tinha que me segurar pra não cair da cadeira. era como se aquela música tivesse o poder de entrar e explodir tudo dentro de mim.

ainda em Barcelona, algumas sextas feiras, eu ia escutar Darlly Maia cantar "sou o mundo, sou Minas Gerais"... e o vulcão entrava outra vez em atividade.

pra finalizar, aqui, em Londres, bem na frente do rio, no miolo da cidade, tá rolando um enorme festival brasileiro e foi aí que eu encontrei Bethânia, Gil, os novos Mutantes e acho que não preciso nem comentar o impacto desses encontros.

dá pra entender o que eu tô dizendo? 
daqui de fora dá pra ver, o Brasil tá explodindo em chamas.
e o que eu tô falando não necessariamente tem haver com as previsões de que esse país do verde e amarelo vai ser uma das grandes potências do futuro.
sinceramente, minha atenção não vai nessa direção.
as chamas que eu sinto queimar, mesmo ainda de longe é a da originalidade da nossa cultura,
da vida que ela pode gerar.
até acho que a gente ainda tem muito pra aprender, mas tenho certeza que a gente tem muito a ensinar,
a ser humano.

e o nosso caminho tá só começando, somos adoslecentes nesse mundo de idosos e o amadurecimento tá vindo, com trabalho duro, suado dessa gente que sabe botar a mão na massa.

deixa eu contá um causo:
logo que cheguei em Barcelona, nas primeiras semanas do curso de espanhol, o professor lançou um tema hipotético: de que no futuro havería um curso superior para ser pai, mãe, avô, etc. e assim se formariam famílias profissionais (ser pai, por exemplo, seria uma profissão). assim, pais que por motivos profissionais não tivessem tempo suficiente para estar com seus filhos, entregariam as crianças a essas famílias e os veriam uma vez por mês apenas. ou seja, as crianças teriam duas famílias, uma de sangue e uma profissional. não me perguntem quais seriam as regras de educação, nada... pra mim tudo isso soa tão esquisito que nem consigo imaginar. o pânico veio quando vieram os comentários e eu percebi que a maioria dos meus colegas de classe concordavam com esta idéia, dizendo que seria uma ótima opção para atingir o sucesso profissional que almejavam. e eu tô falando de gente "culta" que fala 4 línguas, gente que vinha de países super "desenvolvidos" como Suécia, Suíça, Dinamarca, que não precisam se matar de trabalhar pra sobreviver e vem me dizer que não tem tempo pra criar filho? nesse dia, eu mudei totalmente meu conceito de desenvolvimento. pra mim, gente como essa não vai chegar muito longe, pois tá longe de entender o que é a vida. eu sei que não sou dona da verdade, mas peraí né!

e as coisas bonitas Chris?
e tudo aquilo de bom que você viu e viveu?
tá tudo misturado aqui dentro. o bom a gente guarda no coração pra nunca mais esquecer.
o ruim, a gente tem que botar pra fora, pra tentar mudar ou apenas por desabafo.

talvez agora, dessa imensa vontade de ir embora, brote com mais facilidade o lado negro dessa Europa de comidas embaladas, de casas sujas e velhas, de praias de pedra, de intelectuais, universidades e arte dentro de museus e galerias. de gente com medo de gente, e nem é de violência, é medo de encarar mesmo.

eu tento não ser radical,
pois sei que não deveria, nem tudo faz parte da regra.
mas olha se eu não tenho motivo:
eu tô aqui no meu quintal, ta sol e silêncio.
tô sozinha e adoraria dar um bom dia, receber outro, trocar meia dúzia de prosa.
a minha vizinha, acho que não pensa igual. 
nosso quintal é dividido apenas por uma cerca de arame e é inevitável que a gente se veja.
mas parece que ela tem medo do encontro,
desvia o olhar e segue fazendo suas coisas.
pra que tanta solidão?
será que não há um sentido maior em sermos mais de um a habitar o mundo?
se não houvesse, Deus, talvez, tivesse construído um mundo para cada um.
mas não, ele resolveu por todo mundo na mesma panela
e não adianta querer se esconder.
o esconderijo é o sofrimento, é a escuridão.

sei lá, eu que ainda não entendo quase nada desse mundo, sigo caminhando.
e a minha estrada agora é a que leva embora.
quero pular pro outro lado do rio,
deixar pra traz o lado da saudade.



pode colocar a mesa do café que eu tô indo praí te ver,
e tira o som dessa TV pra gente conversar, viu?

segunda-feira, 12 de julho de 2010



"eu não sou daqui, Marinheiro só
eu não tenho amor, Marinheiro só
eu sou da Bahia, Marinheiro só
de São Salvador, Marinheiro só"

Marinheiro só, Caetano Veloso

quinta-feira, 8 de julho de 2010


a casa? tá lá longe.
o menino? não vi mais.
a árvore que a gente subia? acho que ainda tá lá, naquele mesmo caminho pro rio. a gente é que não sobe nela mais.
os melhores amigos? viraram saudade.
ai, as costas tão doendo, a garganta queimando.
o leite derramado, rapidim se transforma em natureza morta.
eu já vô, tá?
vô dormi.
amanhã o dia acontece de novo.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

terça-feira, 6 de julho de 2010



"Pergunte pro seu Orixá
O amor só é bom se doer

Vai, vai, vai, vai, amar
Vai, vai, vai, sofrer
Vai, vai, vai, vai, chorar
Vai, vai, vai, dizer"

Canto de Ossanha, Vinícius de Moraes

http://www.youtube.com/watch?v=I7SGgf5vaNc&feature=player_embedded#!

quinta-feira, 1 de julho de 2010



"Porque tanto perderse, tanto buscarse, sin encontrarse..."
frase retirada da trilha sonora do filme Vicky Cristina Barcelona

por ela, eu estive de passagem e foi ela quem não me permitiu ficar, disse que não queria saber de compromisso. a nossa vida juntas foi boa, e o clima de mar me fez muitas vezes perder a hora, sair de chinelo pela rua sem saber pra onde ir. nessas indas e vindas, vieram os encontros. houveram muitos, e apenas alguns conseguiram ultrapassar a superficialidade, mesmo que ela insistisse que no seu terreno eu não criava raízes. agora, à distância, esses encontros são motivo de dor. dor de despedida, de ausência, do medo do que vai vir, de perder o que eu achava que era meu. sigo, e se eu precisar de colo, espero que ela me deixe voltar. nesse instante, solto tudo para que tudo voe e algo desse tudo regresse assim como um sopro, quando eu menos esperar.

por ella, estuve de pasaje y fue ella que no me dejó quedarme. dijo que no quería compromiso. nuestra vida juntas fue buena. el clima de mar me hizo muchas veces perder la hora, salir de chanclas por la calle sin saber adonde ir. en estas idas y venidas, surgieron los encuentros. hubieran muchos pero apenas algunos traspasaran la superficialidad, aunque ella me dejaba siempre claro que en su terreno no se crea raíces. ahora, a distancia, estos encuentros son motivos de dolor, dolor de despedida, de ausencia, de miedo de lo que va a venir, de perder lo que yo pensaba ya ser mío. sigo, y si necesitar amparo, espero que ella me deje volver. en este instante, dejo todo suelto, para que todo vuele y algo de este todo vuelva, como un soplo, cuando yo menos espere.